Comentário prépóstumo:gostaria de chamar de Suicídio Simbólico. Eu tenho essa permissão, mas em partes. De qualquer forma, assim como não posso defini-lo muito bem, também não posso nomeá-lo. Fiquem a vontade para escolher um título.
Comentário prépróstumo: Se eu estivesse nos Dias de Glória, essa última frase seria um dos troféus. Agora que se anuncia o Inverno da Era Siberiana, ela se torna um de seus Ventos. A vida é tão irônica que o Inverno será no verão!
A alma torturada que eu me tornei
Mantém-me seguro e me deixa entorpecido
Porque neste sonho eu estou totalmente acordado
Aquela que eu amo eu abandonei
(Seether, Save Today)
Comentário prépóstumo: As palavras que eu disse mas que nunca foram minhas.
Comentário prépóstumo: Suicídio Simbólico. O que está em aspas não fui eu que disse... ou foi? Adendo: poucos minutos depois de eu escrever esse poema, recebi esse vídeo pelo facebook: https://www.facebook.com/video.php?v=599000193465549
Eis um relato: dada outras questões, uma vez que o contexto onírico não importa eu posso omiti-las (mais por preguiça do que por propósito), que eu segurava em minha mão a Liturgia das Horas. Diante de mim estava um deus, mas não o Deus de minha fé, mas um senhor terrível e tirânico que havia inundado o mundo. Olhando para mim, que tinha a intenção de destruí-lo, ele me desafiou: "Duvido você tirar três deusas daí!", se referindo ao livro de orações que estava em minha mão. Dentro do sonho eu pensei comigo mesmo: "Mas isso é impossível. Deus é único!". Mesmo assim, eu tentei cumprir o desafio e falhei quase que intencionalmente: busquei palavras que poderiam ser deusas no livro, mas não às encontrei, sabendo que não encontraria.
Comentário prépóstumo: não, não vou lhes entregar o sentido desse sonho, mas logo relatarei outro e talvez possam tirar alguma conclusão. Esse sonho já tem algumas semanas... mas foi sonhado uma única vez.
Cometário prépóstumo: Suicídio Simbólico. Eu sei que o haikai deve ter uma outra métrica silábica diferente da utilizada acima (5-7-5). Talvez eu melhore com o tempo.
As Eras são princípios organizadores. Todas elas foram precedidas de um evento de grande importância. Os Days Before the Fall foram anunciados por um 'sim'. Antes dos Dias de Glória, foi necessário um dia de Limbo. A Era Siberiana foi me trazida por The Winter.
Todas as eras tiveram um sentido. Nos Days Before the Fall, passo a passo, andei em direção ao meu abismo pessoal. No dia de Limbo, eu me joguei de cabeça num grande Suicídio Simbólico. Dia após dia, os Dias de Glória foram altamente suicidas.
Na Era Siberiana não há suicídios simbólicos, porque agora tenho o Cordão de Isolamento, que me protege deles.
Meu caráter não é mais corroído.
Comentário prépóstumo: o Cordão de Isolamento não é uma barreira congelada.
Quando as pessoas se deparam com o suicídio, é compreensível que estejam esperando uma explicação trágica que explique o porque que aquela pessoa se matou. Isso não passa, porém, de uma visão romântica do suicídio.
É verdade, entretanto, que o suicídio possui uma poética própria. Cada elemento da cena pode ser examinado e interpretado como uma peculiaridade artística. Essa, por sua vez, é muito mais terrível do que se pode imaginar, pois o suicídio não é o clímax de uma história de sofrimentos intermináveis. Nada mais errado do que isso.
O que está por trás do suicídio é a impossibilidade da pessoa de suportar o drama cotidiano. O mesmo drama que vivemos dia após dia. É triste, mas nada separa a vida do suicida da nossa própria vida. Talvez o posicionamento dos vivos, o qual falei no começo desse pequeno texto, seja apenas uma proteção que afasta do suicida de nós mesmos.
Comentário póstumo:22/12/13. Na minha memória, esse poema era dos Dias de Glória. Estou vendo que me enganei. De qualquer forma, ela está destoando com o réquiem tardio. Ah, ele tem adendo posterior não datado:
"Não
esqueça nunca o conselho de Goethe: “O talento se aprimora na solidão, o
caráter na agitação do mundo". " Goethe, citado por Olavo de Carvalho.
Sugestão de leitura: ouça essa belíssima obra enquanto lê.
É chegada a hora da mudança dos tempos. Os Dias de Glória, ao menos é o que mostram todos os sinais (sinais que partem de mim para mim mesmo), finalmente chegaram ao fim. Os Dias de Glória, precedidos pelos Days Before The Fall, foi um tempo de mergulho profundo em mim mesmo, de grandes vitórias pessoais e mergulhos dolorosos no abismo da minha mente. Foram dias em que fortes batalhas foram travadas, dias de escolher as palavras para não ser esmagado pelo mundo, dias de quedas abruptas que nunca poderiam me destruir, mas mesmo assim o fizeram em outros tempos (O tempo é fluído aqui!). Foi o tempo e oportunidade do Grande Suicídio Simbólico, também precedido por centenas de pequenos suicídios cotidianos.
Os Dias de Glória só poderiam chegar ao fim porque nada de bom mais poderia sair deles e de seu modus operandi. Não importa o quão poéticas foram suas conquistas e o quanto profundas eram as feridas, constantemente lambidas na escuridão. As glórias e as chagas desses Dias pertencem à uma temporalidade específica, e permanecer nelas seria anacrônico - ou seja, o equivalente histórico para a esquizofrenia. Os Dias de Glória não pertencem mais a esse tempo.
Tudo que aconteceu nesses dias foi relatado por mim, mais de uma vez, para mais de uma pessoa. Todas elas, ou melhor, todos que vocês são leitores desse blog (e só o conhecem porque são íntimos meus o suficiente para que eu o compartilhe), meu réquiem atrasado e meu túmulo novo, ouviram os relatos, tanto dos Dias de Glória, quanto dos relatos que o precederam, mas o ouviram (e viveram) de forma parcial e fragmentada. Por isso, ninguém entenderá o que foram os Dias de Glória para mim e, consequentemente, o sentido do que escrevo aqui.
Como as cartas de suicídio, o External Beholder é meu testamento psíquico. Ele observa a mudança dos tempos, dos meus tempos. Por isso é justo celebrar a mudança aqui.
Não poderia ser diferente, e me retratarei caso as coisas se revelem contrárias. Para mim, os sinais estão claros. Minha vida entrou na Era Siberiana.
Eu falei dela para alguns. E para alguém eu já havia nomeado esses dias que se seguirão. Mas é verdade que para mim, e apenas para mim, faz sentido nomear os dias que se seguem.
Essa Era deve se tornar gelada, como nos insinua seu nome. Um tempo solitário - sempre, uma solidão tão simbólica como meus suicídios de cada dia - em que, como Goethe aconselha, deve servir para construir aquilo que me resta de meus talentos. É uma solidão verdadeiramente íntima. Assim como os Dias de Glória, a Era Siberiana foi marcada por um dia de um importante Suicídio Simbólico, o qual muitos viram e ninguém provavelmente teve ideia que era disso que se tratava.
A Era Siberiana deve ser uma época de silêncio contemplativo. Um tempo místico, certamente, e sobretudo, um tempo eremítico. Uma época - como acredito que coincidência é do Deus dos tolos - em livros importantes serão livros (cumprindo uma promessa) e, consequentemente, textos marcantes serão escritos. Se tudo correr como as coisas se anunciam, será um tempo artístico, tão prolixo e fecundo como o Ano Sombrio de 2008 e, espero, muito mais virtuoso.
Agora, que os ventos solitários soprem e o silêncio musical, orquestral até, impere sobre a gelada Era Siberiana.
Ignorem, caros leitores, os post de 2010. Eles não pertencem mais a esse tempo. Estão expostos aqui como peças num museu, tombados como patrimônio histórico.
Esse blog é - provavelmente, não-permanentemente - sobre 2008.
Comentário póstumo:2008. Esse poema foi escrito para ser traduzido para o francês - e de fato o foi, mas essa tradução foi perdida. Na verdade, não gosto muito dele. Acho enfadonho (se você, sim, especificamente você, me permitir o uso da palavra que é bem mais sua do que minha). Acho que a repetição desse poema repetitivo faz jus a data de hoje.
É preciso conduzir a análise (Nasio) e a análise conduz ao pior (Lacan).
Mais uma linha para meu epitáfio:
"Nãoapenas não consegui tornar-me cruel, como também não consegui me tornar nada: nem mau, nem bom, nem canalha, nem homem honrado, nem herói, nem inseto. Agora vivo no meu canto, provocando a mim mesmo com a desculpa rancorosa e inútil de que o homem inteligente não pode seriamente se tornar nada, apenas o tolo o faz." (Notas do Subsolo, Dostoiévski).
Comentário póstumo: esse é o primeiro poema que escrevo do caderninho de 2008, mas não é o primeiro do caderno. Optei por manter os erros ortográficos, porque são parte do poema original.